domingo, 27 de fevereiro de 2011

Com a palavra...


"Acredito que a formação de um leitor adulto, consciente e crítico inicia-se com a literatura infantil. O buraco negro da leitura está na adolescência, na passagem do ensino fundamental para o médio. É lá que perdemos muitos leitores. E os perdemos para os hormônios, para a obrigação do vestibular, para a vida. No entanto, mesmo essas ovelhas desgarradas serão recuperadas mais adiante se um dia elas passaram pela experiência da leitura infantil. O prazer de ler é como nadar ou andar de bicicleta: a gente nunca esquece. (...)".

(Charles Kiefer, extraído de "Literatura infantil", em Para ser escritor. Leya, 2010)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Quando eu crescer...

"Os outros meninos, um queria ser médico, outro pirata, outro engenheiro, ou advogado, ou general. Eu queria ser um pajem medieval... Mas isso não é nada. Pois hoje eu queria ser uma coisa mais louca: eu queria ser eu mesmo!"
(Mario Quintana)

Quintana tinha um olhar especial para retratar o universo infantil. Na certa seu olhar tinha muito viva a criança que fora. Seus poemas têm um atrevimento que só as crianças têm coragem de ter. E a criança dentro da gente se deleita com isso e agradece!

Lembro com saudade de como me divertia com a leitura do "Batalhão das letras" de Quintana. Eu e meu irmão mais velho compráramos o livro durante um veraneio em Torres, no saudoso Bazar Praiano... E o líamos juntos em meio a muitas risadas (a letra "x" é memorável: "Não faça xixi na xícara. O que irão dizer de ti?"). Isso em meados dos anos 80. A edição da época era ilustrada com macaquinhos e outros bichos, que eu achava hilários. Não encontrei a capa antiga na web, pena...


Também tínhamos o "Pé de pilão", cuja leitura eu, pequeninha, acompanhava com um misto de fascinação e terror. Para mim, botava medo aquela história da bruxa medonha (a fada mascarada) que transformava o menino em pato e a sua avó numa velhinha encurvada e enrugada, "seca e amarela", que "parece passa de gente, não tem cabelo nem dente". A capa da edição da L&PM, de 1980, já era algo impactante. As ilustrações eram de Edgar Koetz. Esta, encontrei! A edição atual (Ática, 2003) também conta com ilustrações muito bacanas de Gonzalo Cárcamo.

E só fui descobrir a espevitada da Lili há alguns anos atrás. "Lili inventa o mundo" veio com o casamento, parte do acervo pessoal da infância do meu marido. Então apresentamos a Lili pro filhote. Ele adorou.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Até os 3 anos, só livros-brinquedo?


Quem é mais familiarizado com os setores infantis das grandes livrarias, já sabe: nas estantes dedicadas às crianças de até 3 anos, a gente só encontra livros-brinquedo. Aqueles livros com músicas, abas e pop-ups, ou então de plástico ou tecido, que não rasgam e sobrevivem a todo tipo de incidente...

Não que não seja válida a organização física dos livros por faixas etárias (ainda que qualquer classificação seja sempre arbitrária). O que me entristece é quando, nas minhas andanças e fuxicos por esses espaços, percebo que os vendedores indicam diretamente os livros-brinquedo quando alguém pede a sugestão de um livro para crianças de 2 ou 3 anos. Muitas vezes, os próprios pais e avós vão reto para essas estantes.

Longe de mim querer desmerecer os livros-brinquedo, que muitas vezes são bacanas, bem bolados, bonitos e atraentes - e certamente válidos para aproximar o bebê do mundo dos livros (embora muitas vezes não sejam bem bolados e pequem por uma linguagem bem rasa, como se o que importasse fosse apenas a imagem e o ruído. O texto? Chama qualquer um para escrever...). Mas uma criança de 2 ou 3 anos (e mesmo de 1) que é estimulada a buscar os livros, que ouve histórias, que tem o exemplo dos pais, irá gostar e aproveitar muito também os livros indicados para 4 anos, 5 anos e até além.

Era uma impressão que eu já tinha, e que se tornou convicção a partir da minha experiência pessoal como mãe de um pequeno e ávido leitor, que acaba de completar 2 anos. Seus livros preferidos não são os livros-brinquedo! Ele também os tem e gosta deles, mas aqueles que ele adora e me pede para contar inúmeras vezes são outros: "A velhinha maluquete" da Ana Maria Machado, "Que alegria" do Celso Sisto, "Pedro e a lua" de Alice Briere-Haquet, "Eu e meu papai" de Alison Ritchie, "Olivia" de Ian Falconer, "Ou isto ou aquilo", da Cecília Meireles, "Platão" e "Sócrates" da Coleção Filosofinhos, além de diversos livros do Ziraldo.

Alguns textos a gente pode manter intactos na leitura, sem prejuízo de nossos pequenos ouvintes, que (surpresa!) permanecerão atentos e curiosos a cada palavra. Outros, mais longos, talvez precisem de uma certa adaptação da linguagem ou uma sintetizada (ainda que eu prefira evitar mexer no texto alheio). De qualquer forma, sem dúvida eles enriquecerão o mundo imaginativo da criança de um modo ainda mais intenso e significativo. Fica a dica!