terça-feira, 19 de abril de 2011

Inícios


"As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças, sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas. Quem me dera saber escrever essas histórias, mas nunca fui capaz de aprender, e tenho pena. Além de ser preciso saber escolher as palavras, faz falta um certo jeito de contar, uma maneira muito certa e muito explicada, uma paciência muito grande - e a mim falta-me pelo menos a paciência, do que peço desculpa".

Assim começa a peculiar história de Saramago para os pequenos leitores, como numa confidência e num pedido de desculpas do narrador por "não saber" contar a história que, se pudesse, gostaria de contar. Felizmente, enquanto se justifica pela falta de jeito, ele vai contando - e nos presenteia com uma bela história que alia a um enredo aparentemente muito simples a profundidade reflexiva que é característica da literatura do autor.

Saramago nos conta do menino que sai de casa pelos fundos do quintal, toma um caminho entre as árvores, desce o rio, afastando-se da sua aldeia, cruza campos e mete-se em bosques até chegar à colina (onde está a flor), num passeio sem pressa, "naquela vagarosa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu...". E o que acontece quando o menino chega, enfim, ao topo da colina e encontra a tal flor? Isso eu já não conto, senão estrago a história. Só lendo.

Publicação no Brasil pela Companhia das Letrinhas. Ilustrações de João Caetano.

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